Nos últimos dez anos, o Brasil registrou um crescimento alarmante de 107% nas reações alérgicas graves, como o choque anafilático, segundo dados do Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Entre 2015 e 2024, o número de internações passou de 551 para 1.143, refletindo uma tendência preocupante em todo o país.
Especialistas atribuem esse aumento a uma combinação de fatores do estilo de vida moderno. A alimentação ultraprocessada, o aumento da poluição do ar, a presença de microplásticos no ambiente e as mudanças climáticas estão entre os principais vilões. Além disso, aspectos como o parto cesáreo, o uso excessivo de antibióticos na infância e a falta de aleitamento materno contribuem para o aumento da suscetibilidade a alergias respiratórias e alimentares.
Em meio a esse cenário desafiador, a medicina tem avançado com tratamentos que oferecem maior segurança e qualidade de vida aos pacientes. A imunoterapia oral (OIT), por exemplo, tem mostrado resultados promissores também em adultos. Um estudo do King’s College London demonstrou que 67% dos participantes passaram a tolerar o equivalente a cinco amendoins sem apresentar reações após o tratamento.
Outra frente inovadora é o uso de terapias biológicas, como o omalizumabe, inicialmente indicado para asma e urticária, que agora tem sido utilizado com sucesso no controle de alergias alimentares graves. Já no campo das alergias respiratórias, a imunoterapia alérgeno-específica, conhecida como “vacina para alergia”, vem se consolidando como um tratamento eficaz, capaz de reduzir a necessidade de medicamentos e induzir tolerância a alérgenos específicos.
Apesar dos avanços científicos, o acesso a tratamentos ainda é um obstáculo. No Brasil, a caneta de adrenalina autoinjetável, fundamental para o socorro imediato em casos de anafilaxia, não é distribuída gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Pacientes e famílias muitas vezes precisam recorrer à importação ou a alternativas de menor eficácia. Projetos de lei, como o PL 85/2024, propõem a inclusão desse medicamento essencial na rede pública, o que representaria um importante passo na proteção de pessoas com alergias severas.
Diante do aumento expressivo das reações alérgicas graves, torna-se urgente a implementação de políticas públicas que assegurem o acesso a diagnósticos precisos, tratamentos atualizados e medicamentos de emergência. Os avanços da medicina estão disponíveis — o desafio agora é garantir que cheguem a quem mais precisa.