O Ministério da Saúde emitiu um alerta nacional no último domingo (2) devido ao aumento de casos de febre amarela em São Paulo, Minas Gerais, Roraima e Tocantins, com quatro óbitos confirmados. Em São Paulo, já foram registrados oito casos em humanos neste ano, sendo sete autóctones e um importado, com taxa de letalidade superior a 50%. Além disso, a confirmação de 25 infecções em primatas não humanos, principalmente na região de Ribeirão Preto, reforça a circulação ativa do vírus, um indicativo de possível avanço da doença em humanos.
A infectologista e patologista clínica Carolina Lázari, membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), explica que a febre amarela no Brasil ocorre apenas na forma silvestre, sendo transmitida por mosquitos de áreas de mata que utilizam primatas não humanos como hospedeiros. “Casos em humanos são esporádicos e geralmente relacionados a incursões nesses ambientes. Desde 1942, não há transmissão urbana, mas a intensa infestação pelo Aedes aegypti, demonstrada pela recente epidemia de dengue, aumenta o risco de reintrodução do vírus no ciclo urbano, possibilitando uma transmissão sustentada entre humanos”, alerta.
Segundo a especialista, áreas periféricas próximas a zonas rurais e matas exigem atenção, pois desempenharam um papel importante nos últimos surtos. “No surto de 2017/2018, por exemplo, a maioria dos casos vinham de um bairro, em Mairiporã, uma área urbana, mas colada à Serra da Cantareira, o que reforça o alerta para a necessidade de vigilância nessas regiões”, conclui.
A principal estratégia de prevenção, segundo a médica, é a vacinação. “A vacina contra a febre amarela é altamente eficaz e gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo recomendada para praticamente toda a população do país. Antes restrita a algumas regiões, a imunização passou a ser indicada de forma mais ampla devido à expansão da transmissão silvestre”, esclarece Lázari. Ela destaca que a alta cobertura vacinal impede a disseminação do vírus, protegendo tanto os indivíduos quanto a coletividade.
Os sintomas iniciais da febre amarela são semelhantes aos da dengue, incluindo febre alta, calafrios, cefaléia intensa e dores musculares limitantes. “O quadro pode evoluir para formas graves, com icterícia, hemorragias, insuficiência renal e hepática, e falência de órgãos. O histórico de exposição a áreas de mata e a ausência de vacinação são fatores-chave para diferenciar a doença de outras arboviroses”, ressalta a patologista clinica.
Apesar de eficaz, a vacina possui contraindicações, incluindo crianças menores de nove meses, lactantes de bebês com menos de seis meses, alérgicos graves a ovo, imunossuprimidos e pessoas com HIV com CD4 abaixo de 350. “Nesses casos, a avaliação médica é essencial para decidir sobre a imunização”, alerta a especialista.
Diante do atual cenário epidemiológico, reforçar a vacinação, monitorar surtos em primatas não humanos e controlar a proliferação do mosquito vetor são medidas fundamentais. A população deve estar atenta aos sinais da doença e buscar orientação médica ao apresentar sintomas compatíveis, especialmente após visitas a regiões de mata. A prevenção é a chave para evitar novos surtos e proteger a saúde pública. O imunizante faz parte do calendário básico de vacinação para crianças de 9 meses a menores de 5 anos, com uma dose de reforço aos 4 anos de idade, além de dose única para a população de 5 a 59 anos que ainda não foi vacinada. Quem for viajar para áreas de maior risco, deve tomar a vacina ao menos 10 dias antes da viagem.
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