O inverno está chegando e já é preciso se preparar para a alta incidência de doenças respiratórias. Rinite, sinusite, bronquite, resfriados e gripe são doenças conhecidas como alergias respiratórias, que tendem a aparecer com maior frequência com o ar mais seco. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 40% da população global vive com algum tipo de alergia e, dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), apontam que 30% da população brasileira apresenta alguma alergia respiratória, sendo a rinite alérgica, a asma e as dermatites as mais frequentes. Além do desconforto físico, estas condições são responsáveis por milhares de internações anuais pelo SUS – Sistema Único de Saúde.
Com o objetivo de sanar algumas dúvidas sobre o tema e alertar a população, principalmente os responsáveis por crianças, que são as mais atingidas, a Inspirali, ecossistema que atua na gestão de 15 escolas médicas em diversas regiões do Brasil, convidou o Dr Marconi Augusto Aguiar dos Reis, pneumologista pediátrico e professor da UniBH, para responder algumas perguntas sobre o tema. Confira:
- O que são alergias respiratórias?
R: As alergias são reações de hipersensibilidade que envolvem a participação de células do nosso sistema imunitário, como por exemplo, os mastócitos e eosinófilos. Neste tipo de reação, o que acontece é a degranulação dessas células imunitárias após exposição a um alérgeno, que pode ser um agente inalado, um objeto em contato com a pele ou até mesmo alimentos. Os grânulos liberados pelas células contêm vários mediadores, como a histamina, que vão causar os sintomas.
- Quais os principais tipos?
R: Entre os tipos de alergia, podemos citar: Indivíduos atópicos, como aqueles que têm asma, dermatite atópica e rinite alérgica, além da conjuntivite alérgica. Mas também temos, dermatite por contato, urticária, angioedema, alergias alimentares e até mesmo formas graves, como a anafilaxia, que pode levar o indivíduo à morte se não for tratada rapidamente.
- Por que elas se intensificam no outono/inverno?
R: Durante os meses de outono/inverno, há um aumento na transmissão de doenças virais respiratórias, que podem causar a exacerbação de quadros atópicos, como por exemplo a asma. Ou seja, as pessoas tendem a se aglomerarem em espaços fechados, facilitando a transmissão desses vírus e se expondo mais aos alérgenos ambientais, como poeira (que contém ácaros), mofo, entre outros. Outro fator que contribui para as alergias respiratórias durante esses períodos é o tempo seco que caracteriza o nosso inverno, prejudicando a fluidificação e eliminação do muco naturalmente produzido pelas nossas vias aéreas, favorecendo acúmulo de alérgenos e patógenos no sistema respiratório.
- Todas as pessoas podem, em algum momento, adquirir uma alergia respiratória? Quem está mais propenso a ter uma alergia respiratória?
R: Para ocorrer a alergia, ou seja, a reação de hipersensibilidade, o indivíduo já deve ter entrado em contato com o alérgeno previamente, ou seja, na primeira exposição o seu sistema imune pode conhecê-lo e produziu anticorpos, principalmente do tipo IgE. Essas moléculas então se ligam à superfície dos mastócitos e eosinófilos, que são as células da alergia. Quando o organismo é novamente exposto a este alérgeno, os mastócitos e eosinófilos “sensibilizados” são rapidamente ativados, liberando grânulos contendo mediadores que causam os sintomas. Os indivíduos atópicos, ou seja, “alérgicos” geralmente são predispostos geneticamente e se sensibilizam mais facilmente com antígenos comuns do meio ambiente. Desta forma, as primeiras manifestações costumam aparecer na infância, embora também possam aparecer mais tardiamente. Durante as suas vidas, os pacientes atópicos ou “alérgicos” podem apresentar uma ou associações entre as doenças atópicas, como asma, rinite e/ou conjuntivite alérgica, dermatite atópica ou esofagite eosinofílica, que provoca engasgos (disfagia).
- Quais os principais sintomas?
R: Os principais sintomas incluem: tosse seca persistente, com piora à noite e nas primeiras horas da manhã, coriza ou nariz escorrendo, espirros, olhos vermelhos, prurido ou coceira nos olhos e nariz, além de manchas na pele. O paciente pode apresentar sintomas de gravidade, como falta de ar, esforço para respirar, chiado no peito, edema ou inchaço, sendo necessária avaliação médica de urgência nessas situações.
- Existe tratamento para as alergias respiratórias? Quais são eles?
R: Existe tratamento para as atopias. São doenças que não têm cura, mas sim controle. O importante é o paciente ter um profissional que o acompanhe, entendendo que são doenças crônicas que apresentam períodos de exacerbação e o tratamento precisa ser sempre individualizado e ajustado de acordo com a fase da doença. Além de medidas farmacológicas, o tratamento das doenças alérgicas respiratórias envolve controle ambiental e, para isso, a relação médico-paciente precisa estar muito bem construída.
- Umidificadores e Desumidificadores funcionam? Qual é o indicado?
R: O controle ambiental é super importante para o controle dos sintomas nas doenças respiratórias alérgicas, como por exemplo, evitar mofo, poeira, tapetes, cortinas, pelúcias, contato com tabaco, mesmo que passivo. Essas são medidas muito efetivas que, juntamente com tratamento medicamentoso, auxiliam na remissão dos sintomas. O uso de umidificadores ou desumidificadores está contraindicado, pois podem criar ambientes propícios ao crescimento de ácaros ou secos o suficiente para diminuir a proteção das vias aéreas. O ideal é realizar a lavagem nasal frequente com soro fisiológico NaCl 0,9% com auxílio da seringa ou dispositivos de alta pressão, de acordo com a faixa etária, para manter as vias aéreas fluidificadas e facilitar a eliminação de muco.
- Uma alergia respiratória pode ser grave para a saúde? Quando?
R: Sim. No caso da asma, por exemplo, o paciente pode evoluir com insuficiência respiratória se não recebe o tratamento correto. Outra reação grave das alergias é a anafilaxia, muitas vezes conhecida pela população como “choque anafilático”, que podem levar o paciente à morte. Lesões graves de dermatite atópica podem se infectar, com potencial de causar quadros graves, por exemplo, com necessidade de antibióticos venosos para seu tratamento. Todo paciente atópico deve ser acompanhado regularmente pelo seu médico pediatra, pneumologista pediátrico ou alergista, de maneira a controlar seus sintomas e saber reconhecer os sinais de piora e o que fazer quando tiverem presentes. Chamamos isso de plano de ação, que deve ser construído com as famílias durante as consultas.
- Há regiões no Brasil onde as pessoas tendem a sofrer mais com este tipo de alergia? Quais são?
R: No Brasil, por ser um país tropical, não temos um período de polinização muito evidente, como ocorre nos países de clima temperado, nos quais os quadros alérgicos respiratórios têm piora. Porém há um aumento significativo durante outono/inverno, pelo tempo seco e maior circulação dos vírus respiratórios. Observamos também piora dos quadros em crianças próximos às áreas de queimadas, que infelizmente ocorrem no nosso país, assim como também em locais pouco arborizados, com alta concentração de poluentes ambientais, próximos às áreas industriais. Não há bom controle de sintomas alérgicos respiratórios sem um controle ambiental efetivo e o planejamento urbano deve levar isso em conta. Vemos que muitas cidades brasileiras não têm esta preocupação, o que prejudica o controle desse tipo de doenças.
- Quais as suas orientações para evitar alergias respiratórias?
R: Primeiro, toda criança atópica precisa de acompanhamento. No caso da asma, por exemplo, existem medicamentos de controle muito efetivos. Segundo, não suspenda medicação de controle por conta própria. Os pais devem ter ciência que as atopias, onde a asma está incluída, são doenças crônicas, ou seja, por mais que a criança pareça estar bem e não apresentar sintomas, isso não garante que não haja inflamação dentro das suas vias aéreas. Portanto, a indicação das medicações de controle e ajustes de doses devem ser realizados com acompanhamento. Outro ponto importante é focar na lavagem nasal com soro fisiológico NaCl 0,9% sem vasoconstritor, é o soro fisiológico puro, para manter a via aérea hidratada e saudável durante os períodos de piora. Outra dica importante, é evitar contato com tabagistas e entender que quem fuma, leva as partículas nas roupas e cabelo e essas são inaladas pelas crianças.