A asma é uma das doenças respiratórias de maior incidência e recorrência no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 23,2% da população brasileira convive com a doença, o que representa um número estimado de 20 milhões de pessoas. A condição, que não é sazonal e pode ser grave, requer diagnóstico preciso, tratamento contínuo e cuidados diários.
Segundo o pneumologista Luís Batalin, médico do Hospital Evangélico de Sorocaba (HES), a alta prevalência está relacionada a diversos fatores. “A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, e sua prevalência vem aumentando nas últimas décadas, especialmente nas grandes cidades. Isso se deve à maior exposição à poluição atmosférica, contato frequente com alérgenos domiciliares, como ácaros e mofo, mudanças nos hábitos de vida e predisposição genética”, explica. Além disso, fatores como o menor contato com microrganismos na infância — conhecido como “teoria da higiene” — e até a exposição de gestantes à fumaça do cigarro podem aumentar o risco de desenvolvimento da doença nos filhos.
Pode surgir em qualquer idade
A asma pode se manifestar em qualquer fase da vida. Embora seja comum que os primeiros sintomas apareçam ainda na infância, especialmente em pessoas com histórico de alergias, a doença também pode surgir na vida adulta. “É comum começar na infância, mas também pode surgir na fase adulta — especialmente em mulheres, e muitas vezes sem histórico alérgico. A asma de início tardio tende a ser mais persistente e difícil de controlar”, destaca o pneumologista.
Gatilhos e causas
A origem da asma está na combinação entre predisposição genética e fatores ambientais, que atuam como gatilhos. “Entre os principais fatores desencadeantes de crises estão ácaros da poeira, mofo, pelos de animais, pólen, infecções virais, mudanças bruscas de temperatura, poluição do ar, fumaça de cigarro, esforço físico intenso, perfumes fortes e estresse emocional”, alerta Batalin.
Apesar desses elementos não causarem a asma diretamente, eles agravam os sintomas e podem provocar crises. Por isso, o tratamento vai além do uso de medicamentos, sendo necessário identificar e evitar os gatilhos.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico e se baseia nos sintomas e na história do paciente. “Exames como a espirometria são fundamentais para confirmar o diagnóstico. Ela mede o fluxo de ar nos pulmões e ajuda a identificar a obstrução reversível das vias aéreas, característica da asma”, explica o médico. Em alguns casos, testes de broncoprovocação, avaliação de alergias e análise do óxido nítrico exalado também podem ser utilizados.
Diferença entre asma e outras doenças respiratórias
A asma é frequentemente confundida com outras condições respiratórias, como bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e rinite alérgica. A diferença principal, segundo Batalin, está na reversibilidade dos sintomas. “A asma se caracteriza por sintomas respiratórios variáveis, como chiado no peito, tosse seca, falta de ar e sensação de aperto no peito, que tendem a piorar à noite, de madrugada ou diante de gatilhos. Uma das marcas da asma é que essa obstrução das vias aéreas costuma ser reversível”, destaca.
Já a DPOC está geralmente associada ao tabagismo e apresenta sintomas permanentes, como tosse com catarro, falta de ar progressiva e limitação para atividades simples do dia a dia. A rinite alérgica, por sua vez, afeta as vias superiores e provoca espirros, coriza e obstrução nasal, mas pode coexistir com a asma, agravando o quadro respiratório.
Tratamento e controle
O tratamento da asma é dividido em duas frentes principais: controle da inflamação e alívio dos sintomas. Os corticoides inalados são o pilar do tratamento – usados diariamente, mesmo na ausência de sintomas, para controlar a inflamação das vias aéreas. Já os broncodilatadores, como o salbutamol, são usados como resgate durante as crises (atuam em poucos minutos e proporcionam alívio imediato).
Nos casos mais graves, podem ser indicadas outras terapias, como antileucotrienos e imunobiológicos. Além dos medicamentos, segundo o especialista, é essencial: evitar gatilhos ambientais, tratar doenças associadas (como rinite e refluxo), manter a vacinação em dia (Influenza e Covid) e usar corretamente os dispositivos inalatórios.
Exercícios são aliados
E, ao contrário do que muitos pensam, praticar atividades físicas não é contraindicado. “Sim, e mais: é recomendado! A atividade física melhora a capacidade pulmonar, fortalece os músculos respiratórios e reduz a frequência de crises. Em alguns casos, pode haver broncoespasmo induzido pelo exercício, mas isso pode ser prevenido com medicação de resgate antes da atividade e com o controle adequado da doença”, finaliza o especialista.