Alterações bruscas de humor, com alternância entre períodos de depressão, euforia ou sentimentos mistos, divididas em fases bem definidas que podem durar dias ou até meses. Esses são os principais sintomas do Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), que afeta mais de 140 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo dados da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Transtornos Afetivos (ABRATA). No Brasil, estima-se que cerca de 8 milhões de pessoas convivam com o transtorno, de acordo com a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB).
O transtorno bipolar é uma doença crônica e recorrente que afeta o cérebro. Normalmente, os primeiros sintomas surgem na infância e se desenvolvem mais claramente na adolescência, até os 25 anos. Aos 30, a maioria dos afetados já apresenta o quadro de forma completa. “A principal característica desse transtorno são fases de humor, muito mais intensas do que as variações emocionais comuns, e que podem interferir significativamente na vida do paciente”, explica o psiquiatra Edivarley da Costa Junior. “No período depressivo, é comum que a pessoa sinta uma tristeza profunda, fadiga, dificuldade para dormir ou sono excessivo, problemas de concentração, alterações no apetite e até mesmo ideações suicidas. Na fase de mania, o sentimento é de euforia intensa, com energia exacerbada a ponto de não querer dormir, além de senso de grandiosidade, gastos excessivos, uso de substâncias, atitudes agressivas e planos irreais”, complementa o médico. Em geral, pessoas diagnosticadas com bipolaridade passam, em média, 85% do tempo em estado depressivo e apenas 15% em episódios de mania.
Ação no cérebro
O cérebro de quem convive com o transtorno bipolar sofre uma série de alterações nos impulsos que desorganizam o funcionamento normal do sistema nervoso. Acredita-se que o transtorno esteja enraizado em desequilíbrios de mensageiros químicos, conhecidos como neurotransmissores, responsáveis por transmitir sinais entre as células nervosas. Um descompasso na atuação de substâncias como serotonina, glutamato, norepinefrina e dopamina pode causar os sintomas da doença, incluindo a desregulação do humor.
Como não existe um exame específico para identificar a bipolaridade, o diagnóstico é feito durante a avaliação clínica, por meio da conversa com o paciente e, quando necessário, com seus familiares. Isso porque a tendência é o paciente lembrar apenas dos episódios depressivos. Normalmente, o tratamento envolve o uso de antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor.
Medicamentos
O Divalproato de Sódio, utilizado no tratamento da bipolaridade e também como anticonvulsivante, entrou na lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2000. Em 2003, já figurava entre os 12 fármacos mais prescritos nos Estados Unidos. Atualmente, integra os principais protocolos psiquiátricos do mundo como primeira escolha no tratamento do transtorno bipolar, podendo ser utilizado como monoterapia ou em associação com outros medicamentos, além de ser indicado para profilaxia da enxaqueca.
Neste mês, a farmacêutica paranaense Prati-Donaduzzi lançou o Zeugma XR, versão do divalproato de sódio com liberação prolongada. “Entre os principais benefícios dessa formulação está a possibilidade de o paciente tomar o medicamento apenas uma vez ao dia, já que ele apresenta picos diferenciados de liberação. Outra vantagem é que, por conta do modelo revestido, o produto se dissolve no intestino, evitando o desconforto gástrico”, destaca Edivarley.
A indicação de uso deve ser feita por um especialista após avaliação clínica do paciente. De modo geral, estudos apontam a eficácia do divalproato tanto na fase de mania quanto na fase depressiva aguda e na manutenção do transtorno bipolar.