Um caso ocorrido em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) na Bahia tem repercutido nas redes sociais e levantado reflexões importantes sobre saúde mental, especialmente entre jovens. Uma adolescente procurou atendimento médico levando um bebê reborn — boneca realista feita para simular um recém-nascido — e relatou que a “criança” estaria passando mal. A equipe da UPA identificou que se tratava de um boneco, mas diante da forma como a jovem se expressava e da convicção com que tratava a situação, decidiu acolhê-la com atenção e cuidado, acionando os serviços de assistência social e saúde mental.
Segundo profissionais que acompanharam o atendimento, a jovem demonstrava forte vínculo afetivo com a boneca, falando dela como se fosse seu filho biológico. O caso foi tratado com sensibilidade, e a jovem foi encaminhada para avaliação psicológica, com suspeita de sofrimento psíquico agravado por fatores sociais.
O que é um bebê reborn?
Os bebês reborn são bonecas hiper-realistas, feitas com características físicas e sensoriais semelhantes às de um recém-nascido. Embora comercializados como itens de colecionador, esses bonecos também têm sido utilizados em contextos terapêuticos, como no enfrentamento do luto perinatal (quando há perda gestacional ou neonatal), em casos de depressão, transtornos de apego, ansiedade e outras condições.
No entanto, especialistas em saúde mental alertam que o uso do bebê reborn como substituto emocional — quando não acompanhado por psicoterapia — pode indicar ou agravar distúrbios psicológicos, como episódios psicóticos, transtornos de identidade ou quadros de dissociação da realidade.
Juventude e sofrimento psíquico
O caso chama atenção para o aumento do sofrimento emocional entre jovens no Brasil. De acordo com dados do Ministério da Saúde, os atendimentos em saúde mental na faixa etária entre 15 e 24 anos cresceram nos últimos anos, impulsionados por contextos de vulnerabilidade social, violência, abandono, falta de perspectivas e uso excessivo das redes sociais.
A Bahia, por sua vez, tem enfrentado desafios para fortalecer sua rede de atenção psicossocial. Embora existam Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e serviços especializados, a demanda tem superado a capacidade instalada, especialmente no interior do estado.
A importância do acolhimento
Para profissionais da saúde pública, o episódio é um exemplo de como o atendimento humanizado e o olhar atento podem fazer a diferença. Em vez de tratar a situação como um caso de trote ou perturbação, a equipe da UPA compreendeu que havia ali uma expressão de sofrimento real.
A jovem foi acolhida com respeito, sem exposição ou julgamento, e está sendo acompanhada pela rede de proteção social do município, que envolve saúde, assistência social e, se necessário, o sistema de justiça.
Um alerta para a sociedade
O caso também traz à tona a urgência de políticas públicas voltadas à saúde mental de crianças, adolescentes e jovens. Em tempos de redes sociais e vidas expostas, muitos jovens se sentem sozinhos, invisíveis ou sem acesso a espaços de escuta e cuidado. O bebê reborn, nesse contexto, pode ter sido não apenas um símbolo de dor, mas também um pedido de ajuda.