O caso da apresentadora Tati Machado, da TV Globo, que enfrenta a ausência de batimentos cardíacos no bebê já na reta final da gestação, traz à tona um tema delicado e ainda pouco discutido: a morte fetal tardia. Embora seja uma ocorrência devastadora, ela é mais comum do que se imagina, e conhecer os sinais e fatores de risco é essencial para prevenir tragédias silenciosas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que orienta também as diretrizes do Ministério da Saúde, a morte fetal é classificada como “tardia” quando ocorre a partir da 28ª semana de gestação ou quando o feto pesa mais de 1 kg. Estima-se que 2,6 milhões de mortes fetais tardias aconteçam por ano no mundo. No Brasil, a média é de 8 a 9 mortes a cada mil nascimentos, mas esse índice varia bastante de acordo com a região: nas regiões Norte e Nordeste, as taxas chegam a ser até 40% maiores do que no Sul e Sudeste, reflexo direto das desigualdades sociais e do acesso à saúde de qualidade.
Para a ginecologista e pesquisadora Fabiane Berta, especialista em medicina fetal pela Santa Casa de São Paulo, a causa dessas perdas pode ser multifatorial. “As principais razões envolvem problemas na placenta, como insuficiência placentária ou descolamento, alterações no cordão umbilical, como nós ou compressões, além de complicações como a pré-eclâmpsia, infecções silenciosas, a exemplo da sífilis e toxoplasmose, e malformações fetais graves. Mas, mesmo com uma investigação completa, cerca de 25% dos casos permanecem sem causa identificada”, explica.
A especialista alerta que, no último trimestre da gestação, alguns sinais não podem ser ignorados. Entre eles: diminuição ou ausência dos movimentos fetais, sangramento vaginal, dores abdominais persistentes, febre, inchaço repentino no rosto, mãos e pernas, visão turva, dores de cabeça intensas e alterações na pressão arterial. “Esses sintomas precisam ser comunicados imediatamente ao obstetra. A vigilância materna é uma ferramenta poderosa de prevenção”, reforça Fabiane.
Mesmo com pré-natal adequado, situações graves como descolamento placentário e restrição de crescimento fetal podem surgir de forma súbita. Por isso, a orientação médica é clara: manter consultas regulares, cumprir os exames recomendados e, em caso de risco, intensificar o acompanhamento. “Mulheres com mais de 35 anos, com histórico de diabetes, hipertensão, obesidade, perdas gestacionais anteriores ou dificuldades de acesso ao sistema de saúde fazem parte do grupo que exige monitoramento ainda mais próximo”, alerta Berta.
A pesquisadora ressalta que no terceiro trimestre, o mínimo recomendado são três consultas médicas, com a possibilidade de frequência quinzenal ou semanal em gestantes de alto risco.
Entre os exames mais utilizados para vigilância fetal estão a ultrassonografia com dopplervelocimetria, que avalia a saúde da placenta e o crescimento do bebê, a cardiotocografia, que monitora os batimentos cardíacos fetais e o controle do volume de líquido amniótico. A partir da 36ª semana, esse controle deve ser mais rigoroso, especialmente após as 40 semanas, conforme orientam o Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia (ACOG) e a FEBRASGO.
Fabiane também chama a atenção para o papel do bem-estar emocional e físico da gestante. “Altos níveis de estresse, ansiedade não tratada, depressão ou jornadas de trabalho extenuantes podem interferir negativamente na gestação. Já atividades físicas leves, supervisionadas e individualizadas, são recomendadas e benéficas para a mãe e para o bebê”, finaliza.