Uma pesquisa nacional realizada pelo Instituto de Pesquisa em Comportamento Digital (IPCD) revelou que a maioria dos adolescentes brasileiros se sente desamparada ao enfrentar os impactos emocionais causados pelas redes sociais. O levantamento, divulgado em maio de 2025, entrevistou 2.150 jovens entre 12 e 17 anos, em todas as regiões do país, e trouxe dados preocupantes sobre a saúde mental na era digital.
De acordo com o estudo, 73% dos adolescentes afirmam já ter sentido ansiedade, tristeza ou inadequação após usar redes sociais como Instagram, TikTok e Twitter. Entre esses, 62% disseram que não têm com quem conversar sobre esses sentimentos, seja em casa ou na escola. Apenas 28% relataram receber algum tipo de orientação de pais, professores ou profissionais da saúde.
A pesquisa também revela que 41% dos jovens já sofreram ou testemunharam episódios de cyberbullying, e 19% afirmaram já ter pensado em excluir suas contas devido à pressão emocional. Outro dado alarmante é que 44% dos entrevistados disseram que passam mais de 5 horas por dia conectados às redes sociais, muitas vezes sem qualquer supervisão.
Segundo a psicóloga Ana Lúcia Prado, especialista em saúde mental infantojuvenil, o uso excessivo e sem acompanhamento pode acentuar quadros de baixa autoestima, distúrbios alimentares e isolamento. “Muitos adolescentes estão lidando com conteúdos que reforçam padrões inalcançáveis e estilos de vida irreais, sem ter um espaço seguro para discutir como isso os afeta”, explica.
O estudo ainda aponta que 81% dos pais e responsáveis admitiram não se sentirem preparados para orientar os filhos sobre o uso saudável da internet. A ausência de diálogo, aliada à falta de políticas públicas voltadas à educação digital, tem deixado os adolescentes vulneráveis ao uso problemático das plataformas.
Organizações da sociedade civil e especialistas em educação já vêm defendendo a inclusão de programas de letramento digital e emocional nas escolas. A coordenadora do IPCD, Marina Guedes, reforça que “a criação de espaços de escuta e acolhimento dentro das instituições de ensino pode ser uma saída viável e urgente”.
A pesquisa completa será apresentada em junho durante o Fórum Nacional de Saúde Mental na Juventude, e deve servir como base para propostas legislativas voltadas ao bem-estar digital dos jovens brasileiros.