Durante o mês de abril, diversas instituições e campanhas ao redor do mundo voltam seus olhares para um tema essencial: a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e outras formas de funcionamento neurológico que fogem dos padrões tradicionais.
No Brasil, esse movimento é conhecido como Abril Azul e representa uma oportunidade para falar sobre inclusão, respeito e os direitos das pessoas que compõem esse universo diverso.
Embora o termo “autismo” seja o mais citado durante o período, o conceito de neurodiversidade é mais amplo e engloba também condições como TDAH, dislexia, discalculia e outras formas de processamento cognitivo.
Cada indivíduo carrega vivências únicas, e reconhecer essas diferenças é o primeiro passo para construir uma sociedade mais empática e acessível.
O Abril Azul surgiu para dar visibilidade a essa pluralidade. Ainda hoje, muitos mitos e preconceitos cercam o tema, dificultando diagnósticos, limitando oportunidades e provocando exclusões sutis — e, às vezes, bem explícitas.
Neste contexto, compreender quem são os neurodivergentes, onde estão e quais são suas lutas é mais do que necessário: é urgente.
Quem são os neurodivergentes
A neurodivergência diz respeito às pessoas cujo funcionamento neurológico se desvia do que a sociedade costuma chamar de “neurotípico”. Isso significa que elas podem perceber, processar e responder ao mundo de maneira diferente da maioria.
Esse conceito surgiu como uma forma de valorização da diversidade cerebral, e não como um diagnóstico clínico. Ou seja, ser neurodivergente não significa ter uma “doença”, mas sim uma forma diferente — e válida — de estar no mundo.
Cada condição neurodivergente apresenta características distintas, que vão desde dificuldades na comunicação verbal até hiperfoco em tarefas específicas ou sensibilidade sensorial elevada.
Reconhecer essas diferenças é o caminho para quebrar estigmas e criar ambientes realmente inclusivos, em escolas, empresas e espaços públicos.
O boom no Brasil e seu cordão de identificação
Nos últimos anos, o debate sobre neurodiversidade ganhou força no Brasil, impulsionado por movimentos sociais, redes de apoio e maior acesso à informação.
Com isso, cresceu também a adoção de símbolos de identificação. Um dos mais conhecidos é o cordão de girassol, usado por pessoas com deficiências ocultas — incluindo algumas condições neurodivergentes — como forma de sinalizar a necessidade de compreensão e apoio.
Esse cordão já é reconhecido em aeroportos, repartições públicas e eventos de grande circulação. Embora ainda falte padronização e conhecimento geral sobre o símbolo, seu uso marca uma evolução no reconhecimento das necessidades invisíveis.
O Brasil ainda tem muito a avançar, especialmente na rede pública de saúde e educação, mas o aumento da visibilidade é um sinal de mudança positiva.
O crescimento de neuroinfluenciadores nas redes sociais
Com a força das redes sociais, pessoas neurodivergentes passaram a ocupar espaços antes inacessíveis, produzindo conteúdo, compartilhando vivências e formando comunidades digitais engajadas.
Esse fenômeno deu origem aos chamados neuroinfluenciadores — perfis que produzem conteúdo com base em suas experiências pessoais, abordando temas como diagnóstico tardio, acessibilidade, rotina e autoestima.
O movimento de redes sociais que vem aumentando a consciência sobre o assunto
Plataformas como TikTok, Instagram e YouTube têm se tornado espaços de aprendizado e troca entre pessoas neurodivergentes e neurotípicas.
Vídeos curtos, depoimentos sinceros e lives educativas ajudam a desmistificar comportamentos e mostrar o que há por trás de ações que, à primeira vista, podem ser mal compreendidas.
Esse movimento tem sido fundamental para ampliar o entendimento da sociedade, inspirar políticas públicas e incentivar a busca por diagnóstico e acompanhamento.
A internet, quando bem utilizada, se transforma em uma ferramenta potente de empoderamento e conscientização.
Celebridades que provavelmente você não sabia que são neurodivergentes
A visibilidade também chegou aos holofotes da mídia. Cada vez mais artistas, atletas e personalidades públicas têm revelado diagnósticos de autismo e outras formas de neurodivergência.
Entre os nomes conhecidos estão Anthony Hopkins, Daryl Hannah, Dan Aykroyd e Susan Boyle. No Brasil, Letícia Sabatella, Marcos Mion e Fernanda Honorato já falaram abertamente sobre o tema.
Essas revelações ajudam a normalizar o assunto e mostram que a neurodiversidade está presente em todas as esferas da sociedade.
Quando figuras públicas compartilham suas vivências, elas inspiram outras pessoas a se entenderem melhor e a buscarem acolhimento.
Neurodivergentes nas empresas ainda é um desafio de adaptação
Mesmo com os avanços, o mercado de trabalho ainda apresenta barreiras significativas para a inclusão de pessoas neurodivergentes.
De acordo com uma pesquisa divulgada pela CNN Brasil, quase metade dos profissionais nunca trabalhou com colegas neurodivergentes. Isso mostra como ainda há um desconhecimento generalizado e, em muitos casos, falta de preparo das lideranças.
Muitas empresas ainda tratam a inclusão como uma obrigação legal, sem investir em ações reais de acessibilidade e adaptação de processos.
Criar ambientes mais inclusivos exige escuta ativa, flexibilidade, políticas de acolhimento e um novo olhar sobre produtividade e performance.
Quando o Abril Azul foi inaugurado?
O Abril Azul surgiu a partir da iniciativa da ONU, que estabeleceu o dia 2 de abril como o Dia Mundial da Conscientização sobre o Autismo.
A data foi criada em 2007 e adotada no Brasil com o objetivo de sensibilizar a população sobre o tema e promover o debate sobre os direitos das pessoas no espectro.
A cor azul foi escolhida por representar a predominância de diagnósticos em meninos, embora o autismo também afete muitas meninas e mulheres — frequentemente com sintomas diferentes e subdiagnosticados.
Desde então, campanhas educativas, eventos públicos e ações de visibilidade vêm ganhando força durante todo o mês, levando o tema a mais lares, escolas e empresas.
Tenho um neurodivergente no meu dia a dia, como posso promover sua inclusão?
Conviver com alguém neurodivergente é um convite diário ao respeito, à empatia e à escuta ativa. A primeira atitude é abandonar preconceitos e buscar compreender as necessidades individuais dessa pessoa.
Perguntar o que a faz se sentir mais confortável, respeitar os limites sensoriais e estar aberto a adaptar a comunicação são gestos simples que fazem enorme diferença.
A inclusão real acontece no cotidiano, nos detalhes: oferecer apoio sem invadir, garantir acessibilidade, ajustar expectativas e reconhecer os talentos e competências de cada um.
Ao compreender que cada cérebro funciona de um jeito, tornamos o mundo mais justo para todos — inclusive para quem é neurodivergente.