Por décadas, a imagem de crianças recebendo a vacina em gotinhas contra a poliomielite tornou-se um símbolo das campanhas de imunização no Brasil. A vacina oral, também conhecida como VOP (Vacina Oral contra a Poliomielite), era amplamente utilizada por sua praticidade e eficiência, facilitando a cobertura vacinal em massa e ajudando a erradicar a poliomielite no país. No entanto, o Ministério da Saúde anunciou recentemente uma importante alteração no calendário vacinal: a substituição das gotinhas pela dose injetável (VIP), a Vacina Inativada contra a Poliomielite.
A mudança reflete um esforço global de erradicação da poliomielite, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e entidades internacionais de saúde, e responde a um desafio específico: a prevenção de casos da doença causados por uma variante do vírus que pode surgir em decorrência da própria vacina oral. Embora rara, essa situação ocorre quando o vírus atenuado presente na vacina oral sofre mutações e pode, eventualmente, causar a doença em indivíduos não vacinados em comunidades onde a cobertura vacinal é baixa.
Por que a troca da vacina?
O principal motivo para a substituição da vacina oral pela injetável é aumentar a segurança e prevenir o surgimento de casos de poliomielite derivados da vacina. A vacina oral contém uma forma enfraquecida do vírus, que é eficaz na imunização, mas pode, em situações específicas, evoluir para uma forma virulenta, especialmente em populações com baixa cobertura vacinal. A vacina injetável, por sua vez, utiliza uma versão inativada do vírus, ou seja, morta, o que elimina qualquer risco de mutação e infecção.
Segundo a Dra. Ana Paula Lemos, especialista em saúde pública, a VIP oferece uma proteção segura e eficaz, especialmente para crianças pequenas. “A versão injetável da vacina elimina os riscos associados ao vírus vivo atenuado da VOP, mantendo uma proteção robusta contra todos os tipos de poliovírus. Isso é fundamental para evitar que o vírus da pólio se espalhe novamente, mesmo que em casos raros e associados à vacina,” explica a médica.
O que muda para as famílias?
Para as famílias, a principal diferença é que, em vez das gotinhas, as crianças precisarão receber uma dose injetável. A VIP é aplicada no músculo e, embora cause um leve desconforto, tem se mostrado mais eficaz na proteção contra todos os tipos de poliovírus. A troca da VOP pela VIP também já é uma prática em diversos países, e o Brasil segue uma tendência internacional de modernizar e fortalecer o sistema de imunização infantil.
A inclusão da vacina injetável acontece em um momento em que as taxas de cobertura vacinal no Brasil estão abaixo das metas ideais, com um índice de aproximadamente 75%, enquanto o recomendado pela OMS é de 95%. O Ministério da Saúde espera que a alteração, junto com campanhas de conscientização, fortaleça o compromisso das famílias com a vacinação infantil.
Para Renata Almeida, mãe de um bebê de oito meses, a mudança é bem-vinda. “Eu já estava preocupada com a vacinação da minha filha. A dose injetável pode até dar um trabalhinho a mais, mas o importante é a proteção dela,” comenta.
O impacto para a saúde pública
Especialistas acreditam que essa mudança também contribuirá para a erradicação global da pólio. Desde a década de 1980, a poliomielite foi praticamente eliminada em diversas partes do mundo graças a programas de vacinação em larga escala. Contudo, em países onde o vírus ainda circula, como o Afeganistão e o Paquistão, além de regiões com baixas coberturas vacinais, o risco de surtos de poliomielite persiste. Em áreas onde a VOP ainda é amplamente usada, os casos derivados da vacina preocupam as autoridades de saúde.
A implementação da VIP no Brasil busca não apenas proteger a população contra a poliomielite, mas também fortalecer a segurança das vacinas e reduzir o risco de reintrodução do vírus. De acordo com o pediatra Dr. Carlos Ribeiro, “A dose injetável representa um avanço importante para a saúde pública no Brasil, e sua adoção deve reforçar as barreiras contra o ressurgimento da poliomielite.”
Desafios da transição
Embora a dose injetável traga benefícios claros, a transição apresenta desafios logísticos e financeiros. A aplicação da vacina injetável demanda maior infraestrutura e capacitação dos profissionais de saúde, além de ser mais cara do que a vacina oral. Ainda assim, o Ministério da Saúde planeja uma expansão gradual da VIP em todo o país, de modo a garantir que todas as crianças continuem protegidas de forma segura.
Além disso, a adoção da VIP exige um reforço nas campanhas de conscientização sobre a importância da vacinação, combatendo fake news e desinformação que vêm gerando hesitação vacinal. Com o apoio das equipes de saúde e de entidades educacionais, o governo espera promover a adesão total das famílias à nova vacina.
O fim das gotinhas: um novo capítulo na luta contra a pólio
A substituição da vacina em gotinhas pela injetável marca o início de um novo capítulo na história da luta contra a poliomielite no Brasil. Com essa mudança, o país segue firme no propósito de manter a poliomielite erradicada e de proteger as novas gerações de uma doença que já causou sofrimento a milhares de crianças.
Para a sociedade brasileira, é um momento de adaptação e renovação do compromisso com a saúde pública. A vacina em dose injetável representa uma proteção mais segura, que evita os riscos associados à versão oral e mantém o país na linha de frente das políticas de imunização globais.