Precarização, assédio moral, jornada de trabalho excessiva, racismo, homofobia, insegurança jurídica, terceirização, transtornos mentais e automutilação foram os principais temas discutidos no Seminário Transtornos Mentais no Local de Trabalho, realizado no Auditório do Hospital Ana Nery, em Salvador. O evento, ocorrido na terça-feira (30), contou com palestras da médica do trabalho Eliane Cardoso, da psicóloga Bruna Santos e da juíza do Trabalho Adriana Manta. A mediação foi conduzida por Alindaí Santana, servidora pública e dirigente do Sindprev-BA.
Alessandra Gadelha, representante do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (Seeb), criticou a precarização do trabalho e o assédio moral nos setores público e privado. Ela alertou sobre o aumento do adoecimento e suicídio entre profissionais de saúde e destacou a importância dos sindicatos acompanharem de perto esses trabalhadores.
Um levantamento do Ministério da Previdência Social apontou que, em 2023, a depressão e a ansiedade foram responsáveis por 149,3 mil benefícios por incapacidade temporária, destacando essas doenças entre as principais causas de afastamento do trabalho. Dados da Fundação Getúlio Vargas indicaram que 63% dos profissionais com transtornos mentais não receberam apoio de suas lideranças, e 48% acreditam que as empresas pouco ou nada se preocupam com o bem-estar dos trabalhadores.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que os gastos com transtornos mentais de saúde já representam mais de 4% do PIB de países como Estados Unidos, Canadá, Espanha e Austrália.
Durante o seminário, Eliane Cardoso ressaltou que o assédio moral contribui significativamente para o adoecimento dos trabalhadores e destacou a necessidade de mudar o modelo organizacional e humanizar as relações de trabalho. “É preciso criar uma rede de solidariedade e colocar-se no lugar do outro para melhorar o ambiente de trabalho”, afirmou. Ela também enfatizou que o medo do trabalhador em denunciar assédio apenas beneficia o assediador.
Bruna Santos, psicóloga, destacou a importância de reduzir o adoecimento laboral e sugeriu a criação de espaços de discussão no ambiente de trabalho. Ela também ressaltou o tabu sobre saúde mental e a relutância das pessoas em admitir doenças mentais devido aos estigmas. Bruna ainda propôs estratégias para prevenir transtornos como depressão e ansiedade, incluindo manter uma regularidade no sono, buscar terapia, encontrar uma rede de apoio e garantir boas condições de trabalho.
A juíza substituta do Trabalho, Adriana Manta, abordou os tipos de violência e discriminação no local de trabalho, destacando a hierarquia social e a herança negativa da escravidão, que ainda afeta as relações de trabalho. Ela também apontou questões como machismo, racismo, capacitismo e preconceito contra a população LGBTQIA+, além das microagressões baseadas no machismo e no racismo “recreativo”.
Adriana Manta também enfatizou o maior adoecimento psíquico de mulheres em relação aos homens, especialmente devido à sobrecarga de trabalho e múltipla jornada. Ela mencionou o “presenteísmo”, onde o trabalhador comparece ao emprego, mas não consegue executar suas tarefas devido ao medo de perder o emprego.
O evento teve apoio institucional da CUT Bahia e foi organizado por vários sindicatos, incluindo Sindprev, Sindsaúde Público, Sindsaúde Rede Privada, Sintrafundapp, Seeb, Sindacs, Sindlimp, Sindpec e outros.