A população brasileira tem celebrado de forma ainda mais efusiva a maior festa popular do país, após a pandemia de Covid-19. Mas junto com o Carnaval, vem a preocupação de outro índice retornar com números parecidos ou maiores que antes. Segundo dados do Ibope Inteligência, antes do período de isolamento, 48% das mulheres brasileiras declararam já ter sofrido algum tipo de assédio, constrangimento ou importunação sexual em alguma festa de Carnaval pelo país. E o quadro fica pior. Em 2020, as notificações de ocorrências de estupro de mulheres por dia haviam aumentado em 50% a mais que no Carnaval do ano anterior, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, analisados pela organização Gênero e Número.
Para Kaká Rodrigues, especialista em diversidade e inclusão e cofundadora da consultoria Div.A – Diversidade Agora!, “infelizmente, problemas de violência e gênero ainda são uma realidade muito presente em nosso dia a dia, e em todo o mundo. Neste período os números se agravam porque muitas pessoas se aproveitam das aglomerações durante o Carnaval para cometer esses crimes premeditadamente. Por isso é importante conhecer a legislação nacional e a local também, de cada bloquinho, e buscar ajuda”.
Desde 2018, a legislação brasileira já tipifica o crime de importunação sexual na Lei nº 13.718 que consiste em praticar ato libidinoso contra alguém sem o seu consentimento, como beijar à força ou ‘passar a mão’. “Há também as campanhas de prevenção e combate ao assédio, como a #NãoÉNão, que são importantes para alertar sobre o problema e incentivar as vítimas a denunciarem”, explica Kaká.
Também cofundadora da consultoria Div.A – Diversidade Agora!, a especialista em diversidade e inclusão Renata Torres complementa: “A conscientização é a chave para mudar essa cultura que ‘normaliza’ o comportamento inadequado. Campanhas educativas, palestras e ações comunitárias podem contribuir para sensibilizar as pessoas sobre a importância do respeito mútuo e do consentimento”, ressalta a especialista.
Renata aborda que as organizações podem colaborar e muito para essa conscientização. “Promovendo uma cultura de igualdade e respeito à diversidade no ambiente de trabalho, levando às pessoas colaboradoras o conhecimento sobre os tipos de assédio e promovendo o respeito igualitário entre gêneros, as empresas também auxiliam no processo de mudança de mindset dessas pessoas que vão para os bloquinhos durante o Carnaval”, conclui.