Os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC) representam uma das principais causas de internações, incapacitações e óbitos globalmente. No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, quase 110 mil vidas foram perdidas em 2022 devido a AVCs, refletindo um aumento estimado de 6% em uma década.
Os AVCs podem ser categorizados em dois tipos distintos: isquêmico e hemorrágico, cada um com características únicas relacionadas aos mecanismos que afetam a circulação sanguínea no cérebro. O tratamento imediato é crucial para ambos, visando reduzir o risco de sequelas graves e desfechos fatais, conforme destaca Alex Baeta, neurologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, um renomado centro de saúde.
O AVC isquêmico, responsável por aproximadamente 80% dos casos, é caracterizado pela interrupção da irrigação sanguínea em áreas específicas do cérebro. Coágulos, placas de gordura e inflamações arteriais figuram entre as principais causas de obstrução das artérias. Além disso, inflamações nas paredes arteriais, conhecidas como arterites, podem estreitar os vasos.
Indivíduos com hipertensão, diabetes não controlados, níveis elevados de colesterol e triglicérides, sobrepeso/obesidade, fumo e sedentarismo apresentam maior risco de AVC isquêmico. Em pessoas com menos de 50 anos, as causas mais comuns incluem trombos resultantes de disfunções cardíacas, arterites autoimunes ou infecciosas e trombofilia, que é o aumento da coagulação sanguínea devido a condições como anemia falciforme e outras predisposições genéticas.
Por outro lado, o AVC hemorrágico, conhecido popularmente como derrame, decorre da ruptura de uma ou mais artérias, resultando em hemorragias intracranianas. Hipertensão arterial, ruptura de aneurismas, malformações arteriovenosas cerebrais (MAV) e lesões oriundas de acidentes são algumas das causas desse tipo de AVC. O entendimento desses fatores é essencial para a prevenção e tratamento adequado, destacando a importância de medidas preventivas em populações de risco.
Sintomas
Os sintomas do AVC variam conforme a localização e a extensão da região cerebral afetada. Geralmente eles surgem de forma abrupta, sendo fundamental reconhecê-los. “Quanto antes o paciente procurar ajuda médica, maiores são as chances de reverter os danos causados”, alerta Baeta. Entre os sintomas mais comuns dos dois tipos de acidente vascular estão a perda de força dos membros, formigamento e alterações de sensibilidade, desequilíbrio, boca torta, visão dupla, perda visual, dificuldade na fala, tontura e vertigem. No caso do hemorrágico, o indivíduo também sente uma dor de cabeça que lembra a sensação de “formigamento” e aumenta a pressão craniana.
Diagnóstico e tratamento
De acordo com o especialista, a tomografia computadorizada é um exame essencial para identificar áreas afetadas e determinar o tipo de AVC. No caso do tratamento isquêmico, o foco é a desobstrução das artérias a partir de duas frentes que podem ser combinadas: via administração de medicamento trombolítico endovenoso, visando a dissolução dos coágulos(útil no caso de pequenas obstruções), e a trombectomia, (que só é indicada em casos de vasos de grande espessura) procedimento realizado via cateterismo em que um tipo especial de tubo chamado stent é introduzido nos vasos e conduzido até a região afetada para aspirar o trombo e restabelecer o fluxo sanguíneo.
“Para obtenção de melhores resultados, é importante que o trombolítico seja administrado em até 4 horas e 30 minutos após o aparecimento dos sintomas. Já a trombectomia pode ser feita até em 24 horas”, explica Baeta. No caso hemorrágico, o foco do tratamento é a causa do sangramento, como a hipertensão. Diante de um aneurisma rompido ou sangramento em uma malformação arteriovenosa, é preciso, na maioria dos casos, realizar uma intervenção cirúrgica ou endovascular para impedir um novo acidente.
No tratamento clínico, são usados medicamentos para controlar a pressão arterial e intracraniana, além de complicações como convulsões. Alguns casos podem exigir a realização de cirurgia para remover o sangue do tecido cerebral. “Seja qual for o tipo de AVC, quanto mais rapidamente as intervenções ocorrerem, maiores as chances de evitar sequelas”, finaliza o médico.