País implementa 29 práticas no sistema público de saúde; resultados incluem benefícios de saúde mental, controle de hipertensão, diabetes e melhora do bem-estar para pacientes com câncer; terapia de origem brasileira chega a 34 países e é usada para apoiar pessoas impactadas pela guerra na Ucrânia.
O Brasil tem uma experiência única na implementação de práticas integrativas e complementares na atenção primária da rede pública de saúde. A afirmação é do oncologista pediátrico Ricardo Ghelman.
Ele faz parte do grupo de conselheiros externos da Organização Mundial da Saúde, OMS, em medicina tradicional e participou da preparação da primeira Cúpula Global sobre o tema, que aconteceu na semana passada na Índia
Foco na atenção primária
Falando de São Paulo, Ricardo Ghelman conversou com a ONU News, sobre os resultados da incorporação de diversas técnicas de medicina tradicional, complementar e integrativa desde 2006 como política pública no Brasil.
“Os resultados que têm sido consolidados, tem mostrado grande benefício para saúde mental, esse é um ponto fundamental, e no controle de hipertensão e diabetes. Na área de oncologia a gente tem 10 hospitais atualmente no Brasil que estão incorporando, nos últimos 10 anos, essas práticas, no sentido não de substituir o tratamento com quimioterapia, radioterapia e cirurgia. Inclusive eu sou oncologista pediátrico e posso contar da minha experiência, mas no sentido de melhorar o grande desafio que é o bem-estar dessa população que sofre muito.”
O especialista explicou que experiência brasileira difere dos Estados Unidos e da Europa, “onde essas técnicas foram muito mais incorporadas em hospitais.” Ele acrescentou que apesar disso, os principais hospitais de excelência no Brasil estão incorporando a medicina integrativa.
Terapia brasileira usada na guerra na Ucrânia
Ricardo Ghelman explicou que as 29 práticas incorporadas no Sistema Único de Saúde, SUS, se dividem em três categorias. A primeira são os sistemas médicos, como a medicina chinesa, a ayurveda indiana e a antroposofia, de origem europeia.
As demais categorias são produtos naturais, regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, e as terapias mente-corpo, como meditação e ioga.
Ele destacou que de todas as práticas, 27 são importadas e apenas duas são de origem brasileira: As plantas medicinais nativas do país e a Terapia Comunitária Integrativa. Esta segunda técnica com ampla difusão internacional.
“Hoje está sendo implementada como modelo de cuidado coletivo em saúde mental para redução de ansiedade, stress, desmedicalização de excesso de medicação em 34 países. Então o Brasil exporta nesse momento TCI, Terapia Comunitária Integrativa, e agora estão tendo rodas de terapia comunitária na Ucrânia, como modelo de redução de burnout durante a guerra.”
Diversidade na medicina
O especialista mencionou também um projeto em curso para analisar clinicamente 621 plantas medicinais nativas do Brasil com o objetivo de criar uma agenda de incorporação daquelas que comprovem benefício terapêutico.
“Hoje em dia o que está acontecendo com a medicina é a mesma coisa que está acontecendo com a agricultura, com a alimentação, que são monoculturas. E o que essa Cúpula Global veio trazer é a importância da diversidade de formatos de cuidado que possam ser pesquisáveis e incorporados baseados em evidências.”
Ghelman afirmou que pelo menos uma das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde, conhecidas como Pics, está implementada em 77% dos municípios brasileiros e em 100% das capitais, em todas as regiões do Brasil.
Ele disse que o país também está investindo em estudos que aprofundem a avaliação de custo-efetividade dessas técnicas.
fonte: ONU